20/06/2025

Autismo no Brasil: mais visibilidade, menos oportunidades?

Mais de 2,4 milhões de brasileiros declararam ter diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA), segundo os novos dados Censo Demográfico 2022, divulgado pelo IBGE. Isso representa 1,2% da população — um número expressivo e inédito nas estatísticas oficiais do país.

Entre os dados, um destaque positivo: a taxa de escolarização de pessoas com autismo (36,9%) é maior que a média nacional (24,3%). Entre crianças de 6 a 14 anos, a presença na escola chega a 70%. O dado parece promissor, mas esconde uma realidade menos otimista: no ensino superior, esse número despenca para apenas 0,8%.

Da infância para onde?

A presença de estudantes autistas no ensino fundamental indica que as escolas estão, em alguma medida, acolhendo melhor essa população. Mas o que acontece depois?

Quase metade (46,1%) das pessoas com TEA com 25 anos ou mais têm ensino fundamental incompleto, ou nenhum grau de instrução. Na população em geral, esse índice é de 35,2%.

Ou seja, mesmo com maior inserção escolar na infância, muitos não conseguem concluir etapas básicas da educação formal.

O problema não está apenas na escola, mas na estrutura da sociedade como um todo, que falha em acompanhar e apoiar o desenvolvimento pleno dessas pessoas.

Inclusão que para no meio do caminho

Os dados escancaram uma questão importante: estamos começando a incluir, mas ainda não estamos sustentando essa inclusão.

Como garantir que essa criança autista que hoje está na escola tenha, no futuro, acesso ao ensino superior, autonomia, e oportunidades reais?

A resposta está em políticas públicas consistentes, educação inclusiva que não abandona no meio do caminho, e uma sociedade que valorize diferenças cognitivas como parte da diversidade humana — não como algo a ser tolerado, mas como algo a ser integrado.

Além disso, considerar outras políticas de apoio na transição da infância para a vida adulta –adaptações reais nas universidades, capacitação profissional acessível, apoio psicológico contínuo, e principalmente, um mercado de trabalho disposto a acolher a neurodiversidade.

Presença em todo o Brasil

O Sudeste concentra o maior número absoluto de pessoas com TEA, seguido por Nordeste, Sul, Norte e Centro-Oeste. Mas em termos proporcionais, as diferenças regionais são pequenas — o que reforça que o autismo não é raro e não está restrito a certos perfis ou locais.

Orgulho autista é também resistência

Mais do que uma celebração, o Dia Mundial do Orgulho Autista (18 de junho) é um ato de afirmação. É um convite para enxergar que pessoas no espectro não precisam ser “corrigidas”, e sim compreendidas, respeitadas e verdadeiramente incluídas.

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