O mascaramento do autismo nas mulheres

No mês em que celebramos as mulheres, é importante refletir sobre questões ainda pouco discutidas, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA) nas mulheres. Embora o autismo seja mais comum em meninos, com uma taxa de prevalência quatro vezes maior, essa diferença está profundamente ligada a fatores culturais e de gênero, além de um histórico de subdiagnóstico feminino, conforme apontado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.
As mulheres com TEA, muitas vezes, não se encaixam nos estereótipos típicos do transtorno, o que dificulta a identificação precoce dos sintomas. Ao contrário dos meninos, elas tendem a mascarar suas dificuldades sociais e emocionais, o que contribui para uma invisibilidade do transtorno.
O diagnóstico tardio e seus impactos
Segundo o Mapa Autismo Brasil, mulheres com TEA enfrentam maiores dificuldades do que os homens para conseguir diagnóstico. Dados apontam que 1/3 das mulheres só recebe o diagnóstico após os 20 anos, evidenciando o caráter tardio do reconhecimento do transtorno.
O atraso pode resultar em uma série de desafios emocionais, incluindo isolamento social, frustração e depressão. Por não entenderem completamente suas dificuldades, muitas mulheres autistas passam anos lidando com sentimentos de inadequação e a sensação de serem “diferentes” sem o apoio adequado.
Camuflagem: como as mulheres com TEA escondem seus sintomas
Pesquisas apontam que as estratégias de camuflagem são mais comuns e mais eficazes em mulheres do que em homens. Exemplos comuns incluem imitar comportamentos sociais, como risadas e expressões faciais, além de fingir que sabem como interagir em contextos sociais. Muitas também se forçam a atender a expectativas de gênero, como ser mais comunicativas e empáticas, mesmo que não se sintam assim.
Além disso, muitas mulheres com TEA evitam expressar desconforto com mudanças, sendo vistas como “flexíveis”. Na realidade, elas estão escondendo o estresse ou a ansiedade, o que pode dificultar o reconhecimento de suas dificuldades.
O peso do mascaramento
As mulheres com TEA tendem a se preocupar excessivamente com a imagem social, buscando perfeição em tudo o que fazem, o que pode gerar uma ansiedade constante. Muitas desenvolvem habilidades de comunicação que, à primeira vista, parecem naturais, mas são superficiais, baseadas em padrões de conversa ensaiados ou scripts sociais. Mesmo quando conseguem mascarar bem seus sintomas, a falta de compreensão sobre o transtorno e o diagnóstico tardio podem causar um impacto emocional significativo.
Assim, neste mês de março, é fundamental ampliar a compreensão sobre o autismo em mulheres, destacando as características sutis do TEA e a importância do diagnóstico precoce. Também é crucial promover mudanças na sociedade para garantir que as mulheres neurodivergentes recebam o apoio necessário.